Talvez você queira ver uma versão resumida desse post lá no meu twitter – é por lá que muitas das minhas ideias de posts surgem e acabo usando como uma forma de ficar mais pertinho de todo mundo que acompanho e que me acompanha.
Por coincidência, fui fotografada duas vezes nos 3 meses que já se foram esse ano. Tinha tempos que eu não ficava na frente das câmeras de um outro fotógrafo sendo dirigida pra um ensaio, e fazer isso duas vezes em um intervalo tão pequeno de tempo me trouxe um tanto de reflexões sobre isso.
Como fotógrafa eu conheço muitos fotógrafos. A grande maioria deles preferem ficar atrás das câmeras e fogem de qualquer um que tentar apontar uma câmera pra eles… Nunca me identifiquei muito com isso: eu adoro trocar de papéis, ser dirigida, deixar que me registrem também. Eu adoro perceber como as pessoas trabalham de formas diferentes. Adoro ter a oportunidade de perceber como meus clientes se sentem enquanto aponto minha câmera pra eles.
É uma oportunidade incrível de realmente sentir o que funciona ou não, o que é mais legal, como podemos melhorar: a gente vive na pele a história de se colocar no lugar do outro e pensar em como se sente com isso. Não estou dizendo que sou a chata analisando quem tá lá dando seu melhor pra me fotografar: no fim do dia é sempre muito claro o que tornou aquele momento tão incrível, o que me deixou mais confortável, o que posso absorver. É uma oportunidade incrível.
Uma segunda coisa que acho incrível: Minha última vez na frente das câmeras tinha sido pela Luanna em 2015: eu era uma pessoa completamente diferente. Tinha mil inseguranças a mais e estava dando meus primeiros passinhos na fotografia de gente – já sabia muito de ISO, velocidade, obturador… mas nada sobre direção de pessoas, posicionamento e tudo isso que é uma das minhas coisas favoritas atualmente. Eu tinha acabado de conhecer a Luanna, que também é super tímida e também estava começando a fotografar pessoas.
Aí veio o ensaio com a Reis: faz 3 anos que eu fotografo pessoas, 8 meses no curso de fotografia tendo dicas, aulas práticas e tudo o mais. Eu conheço a Reis há 3 anos e somos amigas, estávamos uma fotografando à outra em um lugar totalmente novo pra mim. Claro, a intimidade ajuda MUITO – o que deixou mais claro pra mim o quão importante é criar uma conexão com os clientes e modelos- mas a experiência foi totalmente diferente porque eu já tinha uma noção muito grande sobre como me posicionar, o que fica legal, o que não fica… Em coisas simples como não travar o maxilar eu conseguia contribuir pra fotos mais legais.
Por fim, mas de forma alguma menos importante, algo que o contraste entre ser fotografada duas vezes em tão pouco tempo me fez perceber muito claramente: Sebastião Salgado não tava brincando quando ele falou que “você não fotografa com sua máquina, você fotografa com toda sua cultura”. Ver duas fotógrafas incríveis – e totalmente diferentes – fotografarem o mesmo objeto (e aquele que eu conheço melhor: eu mesma!) foi uma das partes mais incríveis disso tudo.
O ensaio com a Reis rolou no final de janeiro, no início de março a Joy me chamou e falou que estaria aqui em BH, perguntou se eu animava sair pra fotografar com ela… E assim nasceu o segundo ensaio desse ano. Fomos pro Mercado Central, andamos lá, Joy conheceu um pouco… almoçamos no palácio das artes, vimos uma exposição de fotografia e fomos pro Parque Municipal (o mesmo lugar do ensaio com a Luanna!) e foi lá que ela me fotografou.
Não são nem 2 meses de diferença, não mudei nada em mim – acho que nem a sobrancelha eu fiz nesse tempo!!!- mas o “filtro” do olhar de cada uma mostra duas pessoas bastante diferentes. O estilo de fotografar, de tratar as fotos, a escolha de lugar, a direção... tudo isso colabora muito pra que eu me veja tão diferente.
Quando olho pras fotos da Reis eu me vejo uma menina, descobrindo a vida, brincando com sensualidade, com seriedade, com a sensação de poder… fazendo caras e bocas e rindo de tudo isso. Tem muita cor, tem muita luz, tem até Fora Temer e uma sensação de tomar posse da cidade que é nossa. Eu me vejo, mas vejo também a menina super engajada socialmente, feminista, do movimento negro, apaixonada por cultura, por teatro. Eu vejo a minha fotografa nas fotos.
Nas fotos da Joy, uma sensação totalmente diferente: não é como se me sentisse mais velha, mas me vejo mais mulher, adulta. Mais séria, mais serena…um ar maior de mistério. As cores são mais sóbrias, tem mais sombra… Eu tô no lugar mais confortável do mundo pra mim que é no meio do mato. Tem brincadeira, tem sensualidade, tem carão, tem gargalhada, tem tudo que me torna eu… mas visto por um olhar diferente, de uma mulher mais velha, de outro estado, com uma vivência totalmente diferente. Eu não a conheço tão bem, mas os 3 dias que passei convivendo com ela em Tiradentes foram suficientes pra identificá-la em cada uma das fotos também.
Se eu pudesse dar uma dica pra todo mundo nessa vida é a de viver essa experiência de ser fotografada – o que pode parecer conveniente vindo de uma fotógrafa- mas principalmente pra quem fotografa outras pessoas. Vale muito a pena sair da zona de conforto, trocar de lado da câmera, se deixar ser visto e dirigido por outro alguém: É um momento que só pode trazer coisas boas!
Você já foi fotografada ou fotografado? Como foi? E o que achou do post? Me contem tudo!
Só um comentário porque muita gente perguntou nos comentários do último post: o pé tá melhor, já até viajei sem a botinha… Ainda tomando cuidado e não andando muito, mas já tô melhor, obrigada pelo carinho!
O conteúdo Sobre ser fotografada – do outro lado da câmera aparece primeiro em A Menina da Janela.